sábado, 29 de dezembro de 2007

->

"não fosse isso
e era menos
não fosse tanto
e era quase"


Paulo Leminski veio aqui em casa noite passada. Me convidou para beber com ele, como negar?

Era Leminski, eu até bebi conhaque, bebi poemas e palavras inacabadas, livros intermináveis. Bebi até alguém se esquecer de mim. No caso, o alguém era eu mesma.

Um irresistível copo de uísque me abordou enquanto eu lia a mente de Drummond. Bebi ouvindo rock, ouvindo Caetano, ouvindo o barulho dos astros.

Conversamos durante horas, um olhando pros olhos do outro, sem nada dizer, dizendo tudo.

Quando o sol despontou no horizonte, ele desceu, entrou num táxi e sumiu.

Um dia ele volta, ah, se volta.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

()

Ela, então, percebeu que tudo o que pretendia fazer não passava de coisas vãs e fez. Já não tinha mais compromissos com os pensamentos e julgamentos. Era Natal e ela queria que fosse Dia da Bandeira, melhor se fosse Dia da Árvore ou do Sol. Satisfação nenhuma, sempre querendo mudar, sempre se mandando, se revirava pra dar um jeito no tédio da vida. Melhor se hoje fosse Dia Índio.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Então

ELA abriu a porta.

ELE sentado no sofá, esperando nada acontecer

Tudo um pouco bagunçado, a bagunça é mais fácil. Confusão. Cheiro de coisa guardada, de dor crescente. Cinzeiro cheio, copos e garrafas vazios. Começava uma chuva fina lá fora, o vento sacudia a cortina da janela do canto da sala que ficou aberta durante dias, imperceptível.

Nenhuma palavra, nenhum sorriso, nenhum olhar. ELE sentado, ELA entrando. Nada restou só uma dor fina, persistente, um reumatismo, talvez.

ELE olhando pra nada, pro vão, pro vazio que sobrou das tardes no parque: o sol no rosto, a brisa, a grama verde, a toalha xadrez, aquela música antiga que lhes pertencia, o que antes era tudo, agora reduziu-se a poeira cobrindo os móveis. ELA remexendo o velho guarda-roupa. Uma mala, algumas roupas e sapatos, algumas lembranças de noites chuvosas, mas alegres, românticas de vez em quando. A chuva aumentando, o trânsito crescendo junto com ela.

Tudo tão remoto pra ELE, tão sem sentido pra ELA

Um raio iluminou o interior da sala. ELA fechou a janela e a cortina. Dirigiu-se à cozinha. Tudo fora do lugar, tudo o que já não restava daquilo que houve. Um velho disco de Bossa tocava na antiga vitrola, o chiado incomodava a ELA, era afeita às modernidades, mas ELE amava aquilo, gostava do que era antigo. Amou-a também, mesmo com todas as diferenças e divergências. Talvez ela o amasse também, mas e agora? O que fica?

Pegou alguns livros empoeirados da estante, jogou junto com as roupas e calçados, na mala sem muitas preocupações. ELE nada fez, nem reclamou quando ELA pegou “A Faca no Coração”, que era d’ELE, o seu amor, o seu Trevisan. De que adiantaria brigar por um livro? As coisas já estavam desgastadas demais, até sua voz. ELA continuava a passear pela casa que um dia lhe pertenceu também. Parecia não mais reconhecer aquilo tudo, parecia mais cheia, mas vazia de algo. Talvez fosse culpa da desordem ou da sua ausência e até mesmo da ausência d’ELE, ausência de alma.

A sala continuava abafada e a buzinas que chegavam ao 7º andar, quebravam um pouco daquele silêncio dolorido, tentavam arrancar aquele grito preso das discussões passadas, aquela náusea seca que rondava os dois. A chuva tornou-se mais forte e ELE levantou-se e foi até a cozinha. O primeiro movimento em horas ou dias ou até mesmo meses. Talvez o som do copo que ELA quebrou na busca de coisas que não existiam mais o tenha despertado da inércia da desilusão. Seus olhos não estavam mais tão nublados, porém continuavam secos.

ELA procurava mais algumas coisas, não sabia se algumas lhe pertenciam ou se eram do outro, tudo tinha se misturado nesses anos de convivência. Nada disseram, nenhum suspiro, só o chiado do disco que tinha acabo, o som dos saltos d’ELA quando andava procurando o que tinha perdido e o barulho longínquo da cidade que tentavam quebrar toda a tensão existente, mas nem os trovões conseguiam essa proeza. E a tempestade se fazia.

ELA desistiu de procurar, ELE tentou desencavar um copo limpo da montanha de louças que estavam depositadas sobre a pia, mas nada estava limpo ali desde que ELA se foi. Foi até o balcão e pegou uma garrafa de uísque que estava quase acabando, iria beber no gargalo, coisa que ELA odiava, mas nada mais importava, não essas pequenas implicâncias cotidianas.

ELA foi até a porta, parou e olhou o apartamento, como se estivesse esquecendo algo, mas não sabia o que era. ELE seguiu-a com os olhos. ELA deixou as chaves na estante. Continuou a olhá-la. Até que a porta fechou-se e ELE não derramou uma lágrima sequer, um pouco de orgulho o invadiu, mas refletiu que não havia chorado, porque chorou demais, estava seco. Ficou olhando a porta branca com a garrafa de uísque nas mãos durante horas, dias, meses.

E lá fora a cidade completamente alagada.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

2007 em 35mm

Com toda certeza esse não foi meu ano mais cinematográfico, mas listinhas são sempre boas e bem-vindas.
Como o ano está quase no fim e eu tenho plena certeza de que não verei o filme mais sensacional do ano nessas últimas semanas, fica aí a lista:

- Pecados Íntimos (Little Children, Todd Field)


Certamente, esse está no meu Top 3 desse ano. Com uma atuação impecável de Kate Winslet, a ótima direção de Todd Field e, principalmente, um roteiro inteligente, acho que não falta mais muita coisa pra ser um grande filme. Ele é cheio de metáforas, necessita de uma boa interpretação, principalmente, acerca das crianças. Sai do filme-pipoca e passa a ser algo mais instigante.
Muita gente foi ao cinema enganada devido ao título em português, também, pudera. Exceto isso, gosto dele em todos os aspectos.

- Borat (Borat, Larry Charles)


O auge da provocação. Humor apelativo e tudo mais. Um judeu que satiriza a caça ao judeu. Tudo combinado? Não sei, só sei que é bem divertido.

- Os Infiltrados (The Departed, Martin Scorsese)


Tudo bem que o filme estreou em 2006, mas só vi esse ano, em janeiro. Scorsese sempre ótimo, até me fez ver o filme mesmo com o Matt Damon no elenco. Oscar merecido, num ano fraco, já que esse não é o melhor de seus filmes. O filme vem pra reafirmar que o DiCaprio é a Diane Keaton mais recente do Martin Scorsese e ele realmente está excelente. Mark Mark irreconhecível e surpreendentemente bom, Alec Baldwin gordo e canastrão, Nicholson com a mesma cara de louco, ator de um papel só, mas se faz bem...

- Hairspray (Hairspray, Adam Shankman)



Tudo bem que musical nunca foi meu gênero preferido e pode ser que esse não seja dos melhores, mas eu adorei. Me diverti no cinema, não ficava pensando nas compras que eu tinha pra fazer ou qualquer coisa do tipo, só sentia vontade de continuar assistindo. As músicas são ótimas e nada politicamente-corretas, exceto em uma parte, mas a gente releva.

- Uma Mulher Sob a Influência (A Woman Under The Influence, John Cassavetes)


Outro filme que não é desse ano, muito menos dessa década, ma eu vi no cinema e isso conta. Foi numa retrospectiva Cassavetes que teve no CineSesc em São Paulo. A forma de não-direção do diretor americano é uma coisa incrível. Gena Rowlands é deusa. Pouquíssimas vezes vi uma atuação tão impressionante. Acho que isso deve-ser tanto ao talento da atriz quanto a liberdade que lhe foi confirida por Cassavetes.
Provavelmente, não deve ter cópias de "Uma Mulher" no Brasil, pois as legendas desse e de outros filmes que foram apresentados nessa mostra, tinham legendas em português de Portugal. A cópia não era das melhores, mas vê-la foi um deleite.

- Daunbailó (Down By Law, Jim Jarmush)


Honestamente, eu deixei de tentar entender essa tradução para o português do título. Também não é um filme desse ano, mas como eu vi esse ano no cinema, devo listá-lo como um dos melhores do ano, pra mim. Afinal de contas, a lista me pertence.
A trilha sonora do Tom Waits é muito boa, a atuação do Benigni não é diferente de tantas outras, mas o diferencial nesse filme é roteiro e o não-compromisso com o cinema americano extremamente comercial.
E o melhor, tirou a má impressão que eu fiquei do Jarmush depois que vi "Flores Partidas".

- Planeta Terror (Planet Terror, Robert Rodriguez)



Sensacional!
Tem tudo o que um filme de zumbi precisa ter, inclusive a graça proposital. A arma acoplada à perna de Rose McGowan, a canastrice de Freddy Rodriguez como latin-lover-herói-e-tudo-mais, dentre outros aspectos deixam o filme incrível. Sem dúvida, um dos melhores e mais engraçados filmes do ano que se passou. Uma ótima retomada do trash.

- A Casa de Alice, de Chico Teixeira


Como o próprio Chico disse, um filme extremamente documental e que requer uma certa paciência. Tudo remete ao documentário, assim como a fotografia e o apego aos mínimos detalhes da vida de uma família suburbana. Acho que é válido associá-lo ao filme do israelense Yuval Shafferman, "Coisas que o Sol Esconde", que passou na Mostra de São Paulo no ano passado. Em "Casa" a velha, mãe de Alice, é a pessoa que tudo vê e nada diz, assim como em "Coisas", a filha mais nova, uma menina de uns 12 anos, faz um papel semelhante. São sabedorias diferentes.
Famílias desajustadas, problemas conjugais e filiais, problemas diários de pessoas comuns.
Negligência é o plot dos filmes. Em "Casa" ela acontece, de fato, e a mãe nada faz para dissolvê-la, já em "Coisas", o pai sente-se culpado, tenta suprimir a falta. Talvez o radicalismo de Teixeira peque mais do que a redenção de Shafferman, mas julgamentos não são válidos aqui. E, com toda certeza, a forma com que o filme brasileiro é levado não é destruída por esse maniqueísmo.
Na minha opinião, "A Casa de Alice" é um dos melhores brasileiros do ano e boa parte disso, deve-se aos silêncios, ao talento de Carla Ribas e a sensibilidade de Chico para captar as nuances reais de uma família ficcional.

- I'm Not There (I'm Not There, Todd Hayes)



Sim, eu esperava mais desse filme, mas não fiquei decepcionada com o que vi. Confesso que fiquei confusa num primeiro momento e que até agora só de pensar na parte do Richard Gere fico com sono. Porém, a atuação de Cate Blanchett vale e vale muito pelo filme todo. Ele poderia ser um "Harry Potter" qualquer, se tivesse uma atuação de Blanchett um pouco parecida com a que ela apresentou na pele de Dylan, eu veria com gosto, mesmo odiado o resto. Entretanto, o filme não é de todo mal, tem umas coisas incríveis, não dá pra comparar com o filme do bruxo, fou apenas um exemplo aleatório. Algumas cenas são tão incríveis que redimem a parte chata de Gere. Um filme não convencional e isso é garantia de discussões após a sessão, garanto. Sem contar que a trilha sonora, é claro, é ótima.

- Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho


Tudo que eu tinha pra dizer sobre esse filme, eu já disse no post anterior. O melhor brasileiro do ano e o melhor de Coutinho.

- Millenium Mambo (Qianxi Mambo,
Hou Hsiao Hsien )


E eu que não conhecia o cinema de Hsiao Hsien...
O filme também não é desse ano, mas vi numa mostra de cinema taiwanês, então conta como cinema na telona.
É uma obra-prima. Um filme hipnotizante. A cena de abertura já indica tudo, pelo menos pra mim, quando começou com a protagonista andando numa espécie de túnel, o meu sentimento era de que eu iria amar aquilo e sim. Eu disse sim para o cinema difícil de Hsiao Hsien e não me arrependo nenhum pouco disso.

- Three Times (Zui hao de shi guang, Hou Hsiao Hsien)

Outro que não é desse ano, visto na mostra de cinema de Taiwan. O amor em três tempos diferentes, vários impedimentos. Não consegue superar "Millennium", mas nem por isso deixa de ser um ótimo filme. Belo, o esmero fotográfico encanta e a cena final da primeira história é de deixar qualquer um com vontade de ter feito aquilo, tamanha delicadeza.
E o cinema oriental vem me ganhando a cada dia que passa.

- A Retirada (Désengagement, Amos Gitai)


Arrebatador.
A cena inicial do filme é inexplicavelmente boa. Discussão sobre nacionalidade, totalmente pertinente. Muitas coisas em aberto, sem frustrar. Juliette Binoche incrível.
Nada mais pode ser dito, tem que ser visto.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O bom filho

Creio que evitei, durante um bom tempo, falar sobre filmes, séries e etc. O motivo? Vai ver que era porque eu estava extremamente cansada de falar mal dos filme dos outros, sendo que eu nunca fiz um sequer e sou dona de uma gama de roteiros medíocres, ou bem de filmes que eu não vou gostar mais daqui a alguns anos, porque eles não são de fato bons. Reler meus textos piegas e adolescentes me deixa mal, mesmo.

Blog é uma coisa muito oitava série, não sei. Mas existem uns bem interessantes com uns textos muito bons, o que não é o caso do meu.

O motivo desse post era: falar do filme do Coutinho. Porém, tomou um rumo diferente. Voltarei ao foco.

Na semana passada, vi o décimo longa-metragem de Eduardo Coutinho. O nome do filme é "Jogo de Cena". Dono de um mau humor invejável (pelo menos eu invejo, porque meu mau humor não chega aos pés do dele), Coutinho sempre consegue me cativar com seus filmes. E esse é o mais incrível de todos. Documentário não é meu gênero favorito, mas sempre me rendo a alguns.

Antes de ir assistir, perguntei a um amigo que tinha visto o filme no dia anterior e ele falou que era o melhor dos melhores do Coutinho. Senti um arrepio, porque já estava indo com uma expectativa e odeio isso, porque sempre saio do cinema insatisfeita.

Felizmente, saí encantada. O filme é ótimo, um dos melhores que vi esse ano. Coutinho vai nos conduzindo com toda sua sinceridade, mas mesmo assim consegue esconder algumas coisas e nos surpreende. Nem fui ver o outro filme que eu tinha programado no meu cronograma do festival. Melhor assim, fui dormir com aquilo na cabeça e ainda estou com ele aqui comigo.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Notas de uma pessoa desocupada

Nota nº1. Pregui...

Nota nº 2. Procurar o que fazer, mas só depois das 14h, porque acordar cedo não está nos planos.

Nota nº3. Como não tem nada pra fazer, o jeito é procurar algum filme bom em cartaz (filme bom = algum que não exija muito do intelecto). Melhor que seja no meio tarde: trânsito tranqüilo, estacionamento fácil, nada de fila e cinema vazio, sem adolescentes pipoca.

Nota nº4. Antes do filme, comer qualquer coisa nada saudável e observar as pessoas que também são desocupadas, ninguém é sozinho no mundo.

Nota nº5. Enquanto o filme não começa, o bom é planejar o que não fazer depois da sessão. Do tipo: deitar em qualquer lugar e pensar em nada.

Nota nº6. Escolher um filme mais idiota da próxima vez, muitas trocas de personalidade pode complicar a vida do espectador.

Nota nº7. Depois de esvaziar a cabeça por mais de meia hora entre cigarros e cafés, pensar num companheiro de copo e ligar logo pra ele, porque tem sempre alguém mais desocupado do que você.

Nota nº8. Combinar de chegar mais cedo no boteco pra evitar problemas com estacionamento e mesas.

Nota nº9. O desocupado merece beber bastante, porque no dia seguinte, só haverá tempo livre.

Nota nº10. Ficar na rua até 3h da madrugada, no mínimo, dormir o mais tarde possível, pois dormir cedo é coisa de quem tem mais o que fazer.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Têm horas

Que eu paro e penso: pra quê? E, logo depois, eu me lembro que tem que ser assim, porque se não for, como será? Acho que não existe outra forma, acho (nunca existiram certezas).

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mais imbecil do que o Jô Soares

Bom, eu me considero mais imbecil do que o "comediante-apresentador" por tê-lo achado o máximo durante boa parte da minhas adolescência. Só mesmo não sabendo ver verdadeiras inteligências para achar o "escritor" muito inteligente e muito talentoso. Lembro-me que ficava acordada até muito tarde para ver o programa e achava muito bom, sem perceber que aquilo tudo era só para ele aparecer mais, já que não deixa seus entrevistados falarem.

Comentários preconceituosos são muito recorrentes, humilhar pessoas com pouca instrução também é um dos esportes favoritos do "artista" e se gabar sempre, mesmo quando percebe-se claramente que o enorme entrevistador não tem razão alguma.

Há algum tempo, eu estava vendo um programa onde ele estava tentando provar para um médico que sabia mais do que o profissional de saúde. Realmente, uma pessoa que não sabe diferenciar teníase de cisticercose é de fato muito bem instruída sobre o assunto.

O Jô é daquele tipo que não merece desprezo, pois não vale isso tudo. As roupas dele já o deixam desprezível o bastante, não vale o esforço. Não sei porque escrevi sobre o assunto, creio que é falta do que fazer.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Finalmente

Tomei uma decisão. Depois de algum tempo inercial, acho que estava mais do que na hora de tomar um rumo certo, por mais incerto que seja. Eu precisava disso.

Agora que saí do estado de latência, nada mais acertado do que tomar decisões que definirão meu futuro insosso. Preciso de um rumo e já arranjei uma bússola velha, meio deficiente, mas é melhor do que nada.

domingo, 28 de outubro de 2007

Noite

"Vêm lá do canal
Reverberações
Do ladrar de um cão.
Uma dessas noites
Tudo vai embora:
Leve-nos,
Ladrão.
Abre-se o sinal
Sem ninguém passar.
É melhor ser vão
Tudo o que pontua
Nossa escuridão."



E eu repito que é melhor ser vão

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Por fim

Por ora, não sinto ternuras. Daquelas ternuras cálidas, que preenchem noites gélidas. O que sinto não passa de encantamento infundado e desrespeitoso. Embora eu saiba de meus erros, insisto neles, faz parte de minha natureza. Por mais que eu leia, por mais que eu me esconda atrás das palavras, não consigo fugir de toda essa angústia que insiste em matar-me lentamente. Como isso se chama?

Prefiro não saber.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Pequenas alegrias

Cheiro de chuva, sorvete de chocolate, elevador no mesmo andar em que você se encontra, as músicas do Tom, a voz da Elis, café no final da tarde, filme bobo em tardes chuvosas, desenho animado antigo de manhã no meio da semana, livros do Leminski em livrarias próximas a minha casa, um disco antigo do João Gilberto, dançar numa noite de sábado animada, essas coisas inumeráveis.

sábado, 13 de outubro de 2007

O Rei dos Palcos


E o teatro brasileiro fica órfão.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Eu estou

Em período de latência

domingo, 30 de setembro de 2007

enfim

e era menos
bem menos
muito menos
do que podia imaginar

sofreu por nada
se alegrou por nada
se contentou com quase nada

mas era muito
pra sofrer por tão pouco

levantou-se
arrumou-se
e foi em busca de novos sofrimentos

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Eu

Ando tão cansada, ando tão correndo. Já não reconheço meu reflexo no espelho, tenho medo de nunca mais me contrar por aí, em qualquer esquina, numa padaria, numa mesa de bar. Se eu ao menos me lembrasse onde coloquei minhas chaves, se me recordasse daquele poema, que certa vez li na porta do banheiro do aeroporto.
Eu estava indo embora, mas não sei se fui, de fato. Creio que acabei esquecida no fundo daquele copo de conhaque, aquele que insisti em tomar mesmo estando de estômago vazio de algumas esperanças. Contrariei regras, não possuía mais virtudes, naquele dia fatídico. Cometi erros até nos acertos.
Continuo na mesma, ando pra ver se me esqueço de lembrar. Sonhei que me matava, noite passada. Um alívio desesperador me despertou, há mais de 32 horas que penso na mesma coisa, sem parar pra respirar. Vou entrar em colapso, se é que já não entrei.
Eu ando tão parada, ando tão sem mim. Estou pensando em desistir daquilo tudo que já não existe, Não sei responder aos bons dias que recebo pelas ruas, os sorrisos estão escassos e os olhos um pouco secos e avermelhados pela poeira.
Quero não mais pensar, penso em não mais querer. Calo meu silêncio, é incômodo. Queria voltar àquilo tudo, mas como?
Há 720 dias que não existo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Como pode

Alguém viver com 5% de umidade do ar? Sério, Brasília vai virar Macondo daqui alguns dias, metade da cidade vai morrer, quer dizer, bem mais do que a metade. Sobrarão algumas almas e a família Batista, família de loucos que moram numa casa de vidro. A casa já está sendo invadida por formigas, só falta o furacão de borboletas amarelas.
Deixando a viagem de lado, me sinto cansada, meu corpo dói, tenho dificuldades pra respirar, quero dormir o tempo todo, não consigo fazer exercícios físicos, só penso em beber água o tempo todo. Acho que estou sucumbindo. Além de tudo isso, tem o calor infernal. Não dá, não dá. Tem que começar a chover logo, senão...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Calor

Sempre detestei calor, mas tem horas que é preferível isso do que qualquer outro sentimento ruim. É melhor eu me concentrar no calor.

Pelo menos dá pra amenizar com um banho gelado.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Sorte

Sorte de hoje: Boas notícias chegarão por e-mail

Adoro o Orkut, ele é tão sábio. Lendo essa frase, me lembrei de um e-mail que eu recebi há alguns meses. Ele anunciava a morte da Kelly Key num acidente de carro. Calma, calma... não pense que eu fico torcendo pra que os outros morram, ainda mais uma pessoa que eu nem conheço (quer dizer, já andei desejando mortes por aí, mas a Kelly é tão insignificante, que eu nunca tinha pensado na morte dela).

Não sei bem se notícias boas chegam por e-mail, algumas notícias ruins chegam sim, mas as boas... tão escassas. E quando chegam, prefiro que não venham por correio eletrônico. É tão melhor quando vêm acompanhadas por um sorriso, um abraço, tão mais humano. Esse mundo virtual anda me cansando um pouco, quer dizer, é mais fácil enumerar as coisas que não têm me cansado.

Enquanto isso, vou levando a vida no arame.

domingo, 16 de setembro de 2007

Sabe

quando você acha que tudo está perdido, que todo aquele trabalho que você teve pra se recuperar caiu por terra e que você nunca mais vai voltar a se equilibrar? E sabe quando aquele nó na garganta fica cada vez mais apertado e o coração cada vez mais doído? E você acaba pensando que aquilo ali é o fim do mundo e que é melhor que esse tal mundo acabe mesmo...

Mas sabe quando vem um clique e você pensa "eu sou muito pra sofrer por tão pouco"? E que você já se recuperou de coisas tão piores e que nem vale tanto a pena assim? Eu até pensei "Quando queres Leblon, sou Pernambuco", eu funciono um pouco assim, tenho meus problemas, acho que vou me acabar neles, mas em certa hora vem uma coisa que se parece com um despertador e eu volto ao normal. Eu não gosto de pegar o sofrimento no colo, alimentá-lo e cuidá-lo até que ele cresça, já passei dessa fase, são anos e anos de psicoterapia, meu bem. É experiência até não poder mais, acho até que eu poderia dar aula de Introdução à Psicologia, desde os nove anos que eu pulo de um consultório pra outro, conheço todas as técnicas e tudo mais. Se bem que antes eu era uma aluna um pouco relapsa, eu era mãe do sofrimento, mas agora que a adolescência acabou, eu resolvi me dedicar um pouco mais.

Acontece que é bonito sofrer na adolescência, sofrer por amor, sofrer por incompreensão, por desilusão, por rebeldia, por preguiça, sofrer. Porém, quando você já passou da idade, fica chato e você tem que arrumar saídas e quando você não consegue achar as saídas sozinho, tem que apelar pra consultórios e receitas médicas e sessões semanais de psicoterapia/psicanálise/oualgodotipo. Daí, quando você aprende, é fácil dar o sofrimento pra adoção, porque ele é um garoto ranhento muito chato, que fica pedindo comida o tempo todo e chora, chora até que você chore com ele também. E se você for do meu tipo, você acaba jogando esse moleque no rio, pra que ele morra afogado por lá mesmo.

Eu tô numa fase de procura pelo veneno anti-monotonia, porque já tô tomando o algum remédio que me dê alegria. Um dia eu acho.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

...

É cada uma que parece duas

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Diga

- Isso, diga qual é sua cor favorita!, falou a moça dos olhos claros pro rapaz de cabelos castanhos
- Nunca pensei muito sobre as cores, acho que não tenho uma favorita, disse ele um pouco envergonhado e intimidado por aqueles olhos enormes.
- Como assim? Todos temos uma cor favorita.
- Vai ver que eu não sou como todos.

Ela se levantou do banco de madeira onde ambos estavam sentados e disse:
- Você deve ter uma cor favorita, é preciso escolher.
- Ninguém nunca me falou sobre isso - disse ele, um pouco decepcionado consigo mesmo.
- Então me diga qual é seu número da sorte.
- Os números nunca me atraíram muito, pra te ser sincero. Acho que nunca escolhi um que fosse de meu agrado, porque não vou com a cara de nenhum deles.
- Ai, mas você tem que escolher. Você tem que saber o que quer, do que gosta, tem que ter coisas favoritas e números da sorte. É preciso se agarrar em algo. Deve ser por essa falta de crença que você sempre me parece muito triste.
- Não sei se é bem tristeza, mas parece um vazio, vazio cheio, entende?
- Como é isso?
- Nem sei como posso explicar, o peito parece que vai explodir de tanto vazio. Eu não entendo muito bem o processo, mas funciono assim.
- Você é esquisito mesmo, hein?
- Sempre fui um pouco assim, minha mãe vive brigando comigo, tentando me empurrar pra frente, diz que eu tenho que saber o que quero, mas sabe que pra mim basta saber o que eu não quero, do que eu não gosto. Acho mais fácil.
- Talvez seja mesmo.

A moça deitou-se na grama, abriu braços e pernas. O rapaz juntou-se a ela. Eram tão jovens, tão belos e inseguros, cheios de fantasias e sonhos futuros, cheios de desilusões que estavam por vir, mais perdidos do que nunca. Eles olhavam os desenhos que as nuvens formavam, perdiam-se ali.

Ela disse:
- Me diz algo que você goste de fazer.
- Acho que não sei.
- Mas você não gosta de fazer isso que estamos fazendo agora?
- Não sei se fui eu quem escolheu isso ou se é só mais uma coisa cotidiana, fazemos isso há anos. Transformou-se em rotina.
- E de mim, você gosta?

Se olharam, uma nuvem cobriu o sol, na certa iria chover.

sábado, 8 de setembro de 2007

Nunca pensei

Que um final de semana tão longo pudesse ser tão bom.
Esse negócio de ter aulas seis vezes por semana, me mata. O que são três dias de vagabundagem na vida de uma pessoa, não é minha gente?

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Sem menos

Viu a-que-la moça, pela primeira vez, numa fria madrugada qualquer, decorar datas nunca foi seu forte. Além do sentimento de inauguração de um possível relacionamento, parecia, inexplicavelmente, que a conhecia há muito mais tempo (bem mais do que meros cinco minutos ou poucas frases, como preferir), sentia que aquilo vinha de outras vidas, quem sabe? Por certo que nunca acreditara nesse papo de “outras vidas”, mas queria buscar alguma explicação praquilo tudo, ao mesmo tempo que não buscava entendimento algum. Contradições, como sempre.

Quis falar-lhe (falar o quê?). Pensou, repensou, pensou mais uma vez (um filme, um livro, uma música, o quê?) e acabou pensando mais, a impulsividade nunca fora seu forte e nesse momento poderia ser o fim de tudo, um fim sem começo. Porém, aquela era sua ú-ni-ca chance, perdera tantas outras oportunidades e não queria perder mais essa, que lhe parecia a chance das chances.

Mãos suando, coração saindo pela boca, frio, voz trêmula, tímida, disse qualquer coisa, não esperava retorno, era qualquer coisa. Disse que não costumava abordar pessoas desconhecidas, aliás, por mais estranho que parecesse, só conversava com conhecidos e que nunca tinha começado um assunto com pessoa alguma. E, naquele momento, não poderia evitar aquilo.

Sem pretensões, olhou para os lados, não ousou encará-la, desviou sua atenção, pensou em Billie Holiday e seus olhos tristes, a voz inconfundível martelava em sua cabeça. Do nada, saiu do estado de transe, Lady Day desaparecera, uma voz paradoxal chegou aos seus ouvidos. Só via os cabelos castanhos e os olhos cortantes (pela primeira vez, olhou no fundo dos olhos de alguém, sentia-se invadindo algo tão íntimo que baixou os olhos de novo).

Começou a sentir-se diferente, mundo parado, isolamento, só as duas em meio ao vento gelado, que deixava as suas mãos ainda mais frias. Tudo lhe parecia inédito demais.

Coração na mão, frio e suor, pernas sem firmeza, pés sem chão, momento tenso (não, não era para ser assim, a ansiedade não fora convidada, mas entrou arrombando a porta). Tentou pensar rápido, procurava algo interessante para dizer (sempre querendo impressionar futuros amantes), mas aquela situação não contribuía (pense rápido! pense rápido! quer dizer, não. não pense!)

Falou com um sorriso no rosto, tentou controlar a voz trêmula, não queria demonstrar tamanho nervosismo, foi pegar uma bebida para as duas, precisava respirar, necessitava de certa estabilidade, o álcool sempre ajuda nessas horas inexatas. Sem ar, estômago revirado (pra que horas?). Conversa sem sentido foi o que surgiu dali, porém, sentia todo o sentido.

A moça era de longe (sempre os de longe) e ela temia por isso (como querer alguém que não se pode ter ao alcance dos olhos e das mãos?). Apesar de tudo, queria aqueles olhos que a engoliam.

Apelaria para quem? Remédios contrabandeados? Músicas de fim de noite de rádios clandestinas? Conversas semanais com uma desconhecida? Deus – deuses – santos - mãe – copos – amigos – putas – livros – corpos – Leminski – abismos – trabalhos – janelas – rascunhos – macumbas – benzedeiras – Lispector – rezadeiras – pai – cigarros – exorcistas – filmes pensantes – cafés – peças rodriguianas – comédias desgastadas – diabos – antigas paixões – Caio F. – escritas – navalhas- barbitúricos – alucinógenos? Para quem ou para o quê?

Abriu-se, como uma flor, sem nenhuma vergonha ou culpa, para àquela estranha, mas que nunca lhe parecera tão desconhecida assim. Desnudou-se em palavras, sem pudor ou medo, não levava nada nos bolsos ou nas mãos, como numa música antiga. Entregava-se ali mesmo.

Pensava “de novo não!”, mas ao mesmo tempo queria “de novo sim! sempre”. Sofria por querer, era uma dependente de tempestades.

A conversa estendeu-se por horas e mais horas, não queria deixá-la, não queria ser deixada. Qualquer despedida poderia ser um movimento fatal, porém, a moça teve que partir, mas prometeu que voltaria em breve, falou com tanta convicção, que apesar de toda a desconfiança, resolveu acreditar. E partiu também, era preciso descansar, era preciso sonhar.

Chegou à casa, olhou-se no espelho, um misto de alegria e tristeza abateu-se sobre seu olhar turvo e embriagado. Algo de vazio e, ao mesmo tempo, de satisfação preenchiam-na, era muita loucura para uma noite só, para uma vida só, para uma alma só. Repetia para si mesma que não podia, que aquilo poderia significar um novo fim, que seria sua perdição, mas agarrava-se, com unhas e dentes à imagem da outra, ao cheiro que ficou gravado em sua roupa durante o longo abraço, não queria apagá-la de suas retinas fatigadas, não podia e não queria. Ficou olhando para o espelho durante muito tempo, perdeu-se ali.

Deitou-se, rolava de um lado para o outro, horas assim. O sol já estava despontando no céu. “Dia nascendo e eu morrendo”, pensamentos piegas e novelescos lhe eram corriqueiros, filosofias baratas também. Pedia a si ou a Deus, não conseguia se decidir bem, para sonhar com os olhos cortantes.

Adormeceu.

Amanhã, quem sabe?

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Tem dias que

A gente se sente bem distante do talento, porque quem sabe juntar meia dúzia de palavras e diz que escreve, não merece respeito algum e eu sou desse tipo de gente. Eu acho que escrevo só porque "Vovô viu a uva" é uma frase cheia de concordância e sentido, mas eu não percebo que é cheia de múltiplos sentidos e que não é tão transparente quanto parece. E sempre uso vírgulas demais, vai ver que é porque sou cheia delas e porque estou cheia de tudo isso.

sábado, 1 de setembro de 2007

Finalmente

O mês do desgosto se foi.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Textos

Inacabados. É isso o que eu faço e é isso que me faz. Começo e deixo. Assim com tudo, como tudo. Enfim, chego ao fim antes que ele chegue no papel, completo em outro local e não em palavras gravadas em algo material.

Por vezes, minha mão trêmula não consegue acompanhar o ritmo alucinante das imagens que aparecem em frente aos meus olhos. Uma angústia toma conta de mim e não termino, prefiro que seja assim, é melhor. Sempre o nunca chega.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Agosto

É um mês difícil, mas já está no final. O que dá um certo alívio, porém gera um desespero, não sei bem o porquê.
Enquanto isso, as árvores queimam lá fora e o cheiro de fumaça me deixa um pouco entorpecida.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Hoje

Me veio um conto, assim, como se não quisesse nada. Chegou bem de repente, como um dor de cabeça nos dias secos dessa cidade-deserto e como a dor, deu pequenos sinais, mas fingi não ver, não lhe dei olhos. Por isso que digo que foi de repente, apesar de não ter sido tão repentino assim. Falaram-me que tenho que escrever para me descarregar de certas dores, mas algumas delas são tão agudas que nem se eu escrevesse tudo o que já foi escrito e o que será escrito por futuros escritores fantasmas, eu conseguiria me livrar delas. Dor de reumatismo... vem quando esfria.

E aqui, na cidade-sem-água e sem profundidade, sempre faz frio, sempre. Então dói, sempre. Como se a dor fosse meu animal de estimação, vou cuidando até ela crescer e depois me afeiçoo e não consigo me livrar dela. É assim nos pequenos corações feridos, devem existir muitos por aí. E mesmo que eu não consiga me livrar de todas as dores, pois elas são necessárias para uma sobrevivência saudável, continuo escrevendo: em qualquer guardanapo, numa nota de um real, nas capas de livros rasgados, nos maços de cigarro, nos sachês de açúcar dos café que andam me consumindo. Escrevo nas mãos e nas pernas, tento escrever na nuca, mas gosto de ver o que eu digo, desisto, minha casa não tem espelhos e não confio nos leitores amigáveis.

Escrevi, mas não sei se um dia mostrarei para alguém. Acho que não, é pessoal demais, seria me desnudar ao extremo em frente a desconhecidos, mas, sem bem que, nessas ocasiões eu me mostro mais, pois não me incomodo muito com estranhos. Platéia pra quê? só falo para tirar o nó da garganta, só canto para vomitar um pouco e escrevo para me livrar desses pecados diários. Acho que é assim que funciona no mundo todo e em Saturno, pois acredito que naquele planeta encurralado entre anéis, as pessoas devem sofrer tanto quanto os que sofrem como eu e como qualquer outra pessoa que cativa a dor. Penso que lá deve haver pessoas sensíveis, mais do que aqui, porque já nos acostumamos com isso tudo e não nos importamos em ferir os outros. Vai ver que é isso...

Deixo-o amadurecer na gaveta, mas é bem possível que eu jogue no lixo antes que ele apodreça e comece a infestar a casa com seu cheiro adocicado dos clichês.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Botões

Eu estava aqui pensando com os meus botões de carne e osso: preciso voltar a escrever. Escrever pra exorcizar os bons e os maus acontecimentos, botar tudo pra fora: paixões, desilusões, dores, mortes diárias, angústias, pequenas alegrias, tudo. O negócio é: o blog é um bom lugar pra isso?
Creio que não. É por isso que eu só coloco as trivialidades, não dá pra falar mais do que isso por aqui. Pra que? Pra quem? Enquanto ele ainda era secreto dava até pra confessar crimes. Mas mesmo com tudo isso, eu ainda gosto de gritar segredos por aqui, qualquer um, de qualquer tipo.

Hoje, senti uma vontade incrível de ler todos os livros que já foram escritos e em suas respectivas línguas, tudo no original, pra não perder detalhe algum. Essa é uma vontade constante, tenho sempre, pelo menos umas três vezes por mês. Acho que é pra ver o quanto eu sou incapaz de escrever, escrever coisas que toquem quem as lê, coisas que tenham algum sentido, ao menos para mim. Acho que é para sentir emoções que não são minhas, provavelmente. Cortázar falando dos botões andando pelas ruas, um arrepio, nunca conseguiria fazer alguém se sentir assim nem minha própria mãe.

Tem dias que eu acordo analfabeta e só tenho vontade de falar. E quero falar só de assuntos que eu desconheço, faz parte de mim. Algumas vezes, eu acordo muda e só escuto os problemas do mundo, para poder escutar os meus. Certos dias, eu nem me lembro meu nome, começo a agir diferente, quando olho no espelho, sou outra em uma época diferente, até meu perfume muda. E quando eu acordo, o sonho acaba e os problemas continuam junto com o perfume e com a vontade de ler todos os livros, não com os olhos, mas com a alma embebida em um sentimento bonito.

Quem sabe?

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Como?

Como as pessoas dizem que não gostam de rotina? Pra mim é o melhor remédio, sempre. Eu sou dependente de rotina, é bem mais seguro e eu não tenho coragem de ficar me arriscando por aí. Nada de pular de pára-quedas, viajar pra África, subir o morro durante a noite, essas coisas mais arriscadas, sabe? Não sou do tipo que gosta de aventuras.
Eu sou antiquada mesmo, e daí?

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Someday, someday...

Tava aqui pensando, sempre que eu acho que o mundo vai acabar, ele me decepciona.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

No se puede...

Hoje me deparei com um conto mais do que bonito do Caio F., meu companheiro de todas as horas. Ele está no livro "Ovelhas Negras", o título é "Metâmeros", dividido em duas partes, mas só transcreverei a segunda parte. Eis a explicação da palavra metâmeros, dada pelo próprio Caio:

"Desde que li em algum livro de biologia que 'metâmero é cada um dos anéis do corpo de um verme, e que cada um desses metâmeros pode formar um verme novo', fiquei fascinado pela idéia de textos que seriam assim como embriões de si mesmos. Se desenvolvidos, poderiam resultar em contos ou até mesmo novelas ou romances. Das dezenas que escrevi, estes dois me parecem os melhores"

Ok, não publicarei o primeiro, não hoje, a vontade não veio, mas a vontade de vomitar o segundo é maior do que eu.

II. SOBRE O VULCÃO
No se puede vivir sin amor.
(Malcolm Lowry: Under the Volcano)
Naquele tempo, minha única ocupação diária era tentar não morrer. Talvez pareça excessivamente dramático dito assim, mas assim era. Nem sinistra ou espantosa, apenas cotidiana feito xícara de café, janela aberta ou fechada sobre esse espaço vago que chamam de o depois, dentro e fora de mim, a morte estava sempre presente.
Naqueles dias uterinos, gordurosos, naqueles dias amnióticos quando eu não conseguia sequer sair da cama, trinta horas em posição fetal sem dormir nem viver, numa espécie de ensaio geral da treva definitiva deflagrada pela hospitalização de Daniel, pouco mais de quarenta quilos e nódulos púrpuras espalhados pelo novo corpo quase de criança onde, do antigo, restavam apenas os enormes olhos verdes, e também pelo suicídio de Julia, pulsos cortados e a cabeça enfiada no forno do fogão a gás, vestida de bailarina com tutu de gaze azul e sapatilhas, depois de ter grafitado em spray rosa-choque no lado de fora da cozinha alguma coisa em espanhol, alguma coisa amarga, alguma coisa assim: no se puede vivir sin amor.
Daquele tempo nem tão distante, daqueles dias que até hoje duram às vezes duas, às vezes duzentas horas, restou essa sensação de que, como eles, também me vou tombando rápido dentro da boca de um vulcão aberto sem fôlego nem tempo para repetir como numa justificativa, ou oração, ou mantra, enquanto caio sem salvação no fogo que é verdade, que si, que no, que nadie puede mismo vivir sin amor.

domingo, 5 de agosto de 2007

Tem coisas

como o poema abaixo, que eu gostaria de ter escrito.

E ele, sim, me faz pensar em alguém, alguém muito distante, praticamente de outra dimensão, que vive num pedestal, lá, intocável, inalcançável, lá longe. Muito longe, onde toda beleza do mundo se esconde.

Antes assim.

Foi assim

que eu conheci E. E. Cummings

O Poema - e. e. cummings

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:
cuja texturacompele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,
tem mãos tão pequenas

(tradução: Augusto de Campos)

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

America

"America I've given you all and now I'm nothing.
America two dollars and twenty-seven cents January 17, 1956.
I can't stand my own mind.
America when will we end the human war?
Go fuck yourself with your atom bomb
I don't feel good don't bother me.
I won't write my poem till I'm in my right mind
America when will you be angelic?
When will you take off your clothes?
When will you look at yourself through the grave?
When will you be worthy of your million Trotskyites?
America why are your libraries full of tears?
America when will you send your eggs to India?
I'm sick of your insane demands.
When can I go into the supermarket and buy what
I need with my good looks?
America after all it is you and I who are perfect not the next world.
Your machinery is too much for me.
You made me want to be a saint.
There must be some other way to settle this argument.
Burroughs is in Tangiers I don't think he'll come back it's sinister.
Are you being sinister or is this some form of practical joke?
I'm trying to come to the point. I refuse to give up my obsession.
America stop pushing I know what I'm doing.
America the plum blossoms are falling.
I haven't read the newspapers for months, everyday somebody goes on trial for murder.
America I feel sentimental about the Wobblies.
America I used to be a communist when I was a kid and I'm not sorry.
I smoke marijuana every chance I get.
I sit in my house for days on end and stare at the roses in the closet.
When I go to Chinatown I get drunk and never get laid.
My mind is made up there's going to be trouble.
You should have seen me reading Marx.
My psychoanalyst thinks I'm perfectly right.
I won't say the Lord's Prayer.
I have mystical visions and cosmic vibrations.
America I still haven't told you what you did to Uncle Max after he came over
from Russia.

I'm addressing you.
Are you going to let our emotional life be run by Time Magazine?
I'm obsessed by Time Magazine.
I read it every week.
Its cover stares at me every time I slink past the corner candystore.
I read it in the basement of the Berkeley Public Library.
It's always telling me about responsibility.
Businessmen are serious.
Movie producers are serious.
Everybody's serious but me.
It occurs to me that I am America.
I am talking to myself again.

Asia is rising against me.
I haven't got a chinaman's chance.
I'd better consider my national resources.
My national resources consist of two joints of marijuana millions of genitals
an unpublishable private literature that goes 1400 miles and hour and
twentyfivethousand mental institutions.
I say nothing about my prisons nor the millions of underpriviliged who live in
my flowerpots under the light of five hundred suns.
I have abolished the whorehouses of France, Tangiers is the next to go.
My ambition is to be President despite the fact that I'm a Catholic.

America how can I write a holy litany in your silly mood?
I will continue like Henry Ford my strophes are as individual as his
automobiles more so they're all different sexes
America I will sell you strophes $2500 apiece $500 down on your old strophe
America free Tom Mooney
America save the Spanish Loyalists
America Sacco & Vanzetti must not die
America I am the Scottsboro boys
America when I was seven momma took me to Communist Cell meetings they
sold us garbanzos a handful per ticket a ticket costs a nickel and the
speeches were free everybody was angelic and sentimental about the
workers it was all so sincere you have no idea what a good thing the party
was in 1935 Scott Nearing was a grand old man a real mensch Mother
Bloor made me cry I once saw Israel Amter plain. Everybody must have
been a spy.
America you don're really want to go to war.
America it's them bad Russians.
Them Russians them Russians and them Chinamen. And them Russians.
The Russia wants to eat us alive. The Russia's power mad. She wants to take
our cars from out our garages.
Her wants to grab Chicago. Her needs a Red Reader's Digest. her wants our
auto plants in Siberia. Him big bureaucracy running our fillingstations.
That no good. Ugh. Him makes Indians learn read. Him need big black niggers.
Hah. Her make us all work sixteen hours a day. Help.
America this is quite serious.
America this is the impression I get from looking in the television set.
America is this correct?
I'd better get right down to the job.
It's true I don't want to join the Army or turn lathes in precision parts
factories, I'm nearsighted and psychopathic anyway.
America I'm putting my queer shoulder to the wheel."

(Allen Ginsberg)

Me lembrei

que gosto bastante de um texto do Allen Ginsberg, acho que o título é "América" ou algo parecido ou nada parecido com isso. Fala do egoísmo americano e nada como um americano reclamando do próprio país, esses eu respeito. Qualquer um reclamar dos EUA é fácil, mas um nativo... é raro.

terça-feira, 31 de julho de 2007

É por essas e por outras

que o mundo tá ficando sem graça.



Dois dos grandes mestres, aqueles me fizeram ter mais vontade ainda de fazer cinema, partiram, numa mesma semana. Um após o outro. Tudo acaba ficando um pouco sem brilho, sem genialidade. E o marasmo vai tomando conta das nossas mentes sem conceito.


sexta-feira, 27 de julho de 2007

Last Days

Ai, segunda-feira é dia de acordar cedo e eu nem me lembro mais como se faz isso.
"Paaaaaain, Paaaaaain, Paaaaaaain
You know you're right"*

*ok, foi tosco, mas foi pra combinar com o título.

domingo, 22 de julho de 2007

Six Feet Under

Eu adiei, adiei e enfim assisti a quarta temporada, devorei em dois dias. Estou com síndrome de Fisher.

sábado, 21 de julho de 2007

Toninho passou dessa para pior

Deve estar ardendo no mármore do inferno, abraçado com o Roberto Marinho.
Que o diabo o tenha, se ele aguentar.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Me explica uma coisa...

Por que o Edinanci competiu contra uma mulher?

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Pan Pan Pan Pan

Eu não aguento mais esse Pan.
As negociações do governo carioca com o tráfico deram certo, até agora ninguém tomou um tiro. É tão legal ver a competição de remo, os atletas devem sair cheios de doenças daquela lagoa poluída.

Se o Pan fosse em São Paulo seria mais legal, competição no Tietê ou no Pinheiros, nem precisava de tiro pra matar os atletas.

Eu só torço pro Brasil na natação masculina, tenho uma queda por nadadores.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Assim que as coisas funcionam

Filas são sempre um problema, ainda mais quando tem algum pseudo-intelectual nas suas costas. Sempre aquelas discussões intermináveis sobre a filosofia de alguma coisa ou sobre questões metafísicas existentes nos filmes de algum dos grandes diretores desconhecidos pelas massas ou qualquer discussão pretenciosa. Por isso, eu e um amigo desenvolvemos a maravilhosa técnica de discutir besteiras com grande propriedade e sempre inserir um termo inteligente. A gente fala tudo o que vem a cabeça, mas com um ar inteligente. É ótimo para combater chatos e alunos de cinema da FAAP (que não se encaixam nem na categoria dos chatos).

terça-feira, 17 de julho de 2007

E era menos

Achar o título foi o mais difícil, sempre é. Já esgotei as possibilidades, tantos feitos e desfeitos...
O Leminski é sempre uma saída e uma entrada também.