quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Diga

- Isso, diga qual é sua cor favorita!, falou a moça dos olhos claros pro rapaz de cabelos castanhos
- Nunca pensei muito sobre as cores, acho que não tenho uma favorita, disse ele um pouco envergonhado e intimidado por aqueles olhos enormes.
- Como assim? Todos temos uma cor favorita.
- Vai ver que eu não sou como todos.

Ela se levantou do banco de madeira onde ambos estavam sentados e disse:
- Você deve ter uma cor favorita, é preciso escolher.
- Ninguém nunca me falou sobre isso - disse ele, um pouco decepcionado consigo mesmo.
- Então me diga qual é seu número da sorte.
- Os números nunca me atraíram muito, pra te ser sincero. Acho que nunca escolhi um que fosse de meu agrado, porque não vou com a cara de nenhum deles.
- Ai, mas você tem que escolher. Você tem que saber o que quer, do que gosta, tem que ter coisas favoritas e números da sorte. É preciso se agarrar em algo. Deve ser por essa falta de crença que você sempre me parece muito triste.
- Não sei se é bem tristeza, mas parece um vazio, vazio cheio, entende?
- Como é isso?
- Nem sei como posso explicar, o peito parece que vai explodir de tanto vazio. Eu não entendo muito bem o processo, mas funciono assim.
- Você é esquisito mesmo, hein?
- Sempre fui um pouco assim, minha mãe vive brigando comigo, tentando me empurrar pra frente, diz que eu tenho que saber o que quero, mas sabe que pra mim basta saber o que eu não quero, do que eu não gosto. Acho mais fácil.
- Talvez seja mesmo.

A moça deitou-se na grama, abriu braços e pernas. O rapaz juntou-se a ela. Eram tão jovens, tão belos e inseguros, cheios de fantasias e sonhos futuros, cheios de desilusões que estavam por vir, mais perdidos do que nunca. Eles olhavam os desenhos que as nuvens formavam, perdiam-se ali.

Ela disse:
- Me diz algo que você goste de fazer.
- Acho que não sei.
- Mas você não gosta de fazer isso que estamos fazendo agora?
- Não sei se fui eu quem escolheu isso ou se é só mais uma coisa cotidiana, fazemos isso há anos. Transformou-se em rotina.
- E de mim, você gosta?

Se olharam, uma nuvem cobriu o sol, na certa iria chover.

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