quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Eu, você, nós dois
Devia ser saudade ou falta do que fazer, fim de carreira. O carnaval tinha acabo e isso era uma certeza só minha. Um chiado de disco velho, não era rádio. Quem tinha vitrola? Quem tinha esse disco? Minha vontade de ver o sol continuava a mesma. Ficava no quarto olhando pro teto, com as cortinas fechadas, a luz entrava pelas frestas. A bossa, a fossa...
O telefone parara de tocar, foi aí que acho que acordei. Silêncio sepulcral, desafinado, des-afinado, som finado. Paciência zero, não queria ver rostos brancos e felizes. Tinha dormido mais do que o necessário, isso era fato. Por um momento preferia a insônia de sempre, mas até ela deixou carta de despedida. Só a inércia.
Eu não fazia questão de tomar uma atitude, de ser mais uma imbecil no meio de uma multidão de pessoas brilhantes. Creio que não se tratava de medo, mas preguiça. Até respirar tornava-se tarefa árdua, existir então.
Um passado deixado na porta do quarto, eu já nem me lembrava disso. Era norte demais pra mim. Tudo o que não queria, eu ganhava.
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Feliz Ano (de) Novo
Abri o jornal, nada de novo, CPMF, fogo não-sei-aonde, uma data diferente, mas todo dia é uma data diferente. Só que essa é uma mudança com ressaca. O jeito era lavar os copos, lavar o chão, lavar tudo. As coisas fora do lugar, mas minha quase-felicidade estava na estante. Gosto de morrer de vez em quando, mas quis me manter viva dessa vez. E eu quis o fim, tudo merece um final.
Estranhava o fato de eu já não queria mais fazer sentido. Sempre fui ilegal, mas não sabia do meu não-padrão, antes era apenas deslocada. Sorria de canto de boca, mas era sorriso sincero, porém, não me escancarava. Me mostrava em outra situação, em outro comportamento, mas sem mudar o interior. Era como uma casa que recebe pintura por fora e continua a mesmíssima por dentro.
A impressão era de que minhas nuvens tinham passado e eu só sentia o calor de um janeiro que ainda não conhecia.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Titulares Planares
Ouvi as nuvens que fugiam da cidade, queria segui-las, mas não era/estava leve o bastante para voar pra bem longe, para me encontrar na estrada. Preciso de sonhos, para tê-los é necessário que eu mate essa falta de vontade. Juro que ainda escuto uma música velha que não toca mais em lugar algum.
Cruzei a cidade num grito. Acordei numa esquina que não existe, minhas costas doíam. Estava no fim da picada, no fim do mundo, no fim de mim. Atravessei a ponte aos trancos e barrancos e encontrei uma tal de Solidão Dolorida. Ela disse que me conhecia de outros carnavais, talvez. Eu não me lembrava, é possível que tenha bebido demais daquela dor engarrafada ou da desilusão destilada. Melhor esquecer.
Caminhamos por campos abertos, sangrando e eu não sentia, talvez a dor fosse tão grande que já fizesse parte de mim, que já me anestesiasse. Lembro-me de que andamos por horas e horas, sem um rumo definido. Acordei em casa, um espinho estava cravado em minha mão direita. O que teria sido aquilo? O que será daquela noite?
Minha pele tinha coberto aquele corpo estranho, parecia um sinal de que ele deveria continuar onde estava, apesar da dor, dor de alma. Era difícil/impossível recordar se todo aquele caos teria ocorrido na noite passada ou num tempo indefinido.
O que seria de mim com um calendário nas mãos? Talvez não fosse eu, talvez fosse parte de mim que ficou esquecida numa gota de chuva. Ou, talvez, não tenha sido nada disso.
sábado, 5 de janeiro de 2008
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
S
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Escrevo longas cartas pra ninguém
F.,
Quanto calor tem feito por aqui esses dias, aposto que você iria adorar. Já te falei mil vezes que detesto isso de tempo abafado e você sempre com um contra-argumento sobre as temperaturas negativas e eu pondero e digo que gosto do tempo ameno. Sou feita de amenidades. Andei relendo umas cartas que escrevi pra você há mais de um ano, mas que não tive coragem de enviar. Como elas são banais, Deus do céu.