quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Titulares Planares

Tinha um plano piloto nas mãos. Porém, quando anoiteceu perdi os eixos, subi na torre, me joguei no tempo/espaço remoto. Chuvas passageiras em meio as pessoas que ficam. Morro de amores por ninguém, tenho muitas dores nas juntas de madrugada. Acordo/vago, sumo na secura das ruas, no frio do vento cortante.
Ouvi as nuvens que fugiam da cidade, queria segui-las, mas não era/estava leve o bastante para voar pra bem longe, para me encontrar na estrada. Preciso de sonhos, para tê-los é necessário que eu mate essa falta de vontade. Juro que ainda escuto uma música velha que não toca mais em lugar algum.
Cruzei a cidade num grito. Acordei numa esquina que não existe, minhas costas doíam. Estava no fim da picada, no fim do mundo, no fim de mim. Atravessei a ponte aos trancos e barrancos e encontrei uma tal de Solidão Dolorida. Ela disse que me conhecia de outros carnavais, talvez. Eu não me lembrava, é possível que tenha bebido demais daquela dor engarrafada ou da desilusão destilada. Melhor esquecer.
Caminhamos por campos abertos, sangrando e eu não sentia, talvez a dor fosse tão grande que já fizesse parte de mim, que já me anestesiasse. Lembro-me de que andamos por horas e horas, sem um rumo definido. Acordei em casa, um espinho estava cravado em minha mão direita. O que teria sido aquilo? O que será daquela noite?
Minha pele tinha coberto aquele corpo estranho, parecia um sinal de que ele deveria continuar onde estava, apesar da dor, dor de alma. Era difícil/impossível recordar se todo aquele caos teria ocorrido na noite passada ou num tempo indefinido.
O que seria de mim com um calendário nas mãos? Talvez não fosse eu, talvez fosse parte de mim que ficou esquecida numa gota de chuva. Ou, talvez, não tenha sido nada disso.

Um comentário:

Fernanda Ros disse...

ótimo texto; foi o que eu mais gostei desses últimos que você postou. parágrafo inicial principalmente.