domingo, 30 de setembro de 2007
enfim
bem menos
muito menos
do que podia imaginar
sofreu por nada
se alegrou por nada
se contentou com quase nada
mas era muito
pra sofrer por tão pouco
levantou-se
arrumou-se
e foi em busca de novos sofrimentos
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Eu
Eu estava indo embora, mas não sei se fui, de fato. Creio que acabei esquecida no fundo daquele copo de conhaque, aquele que insisti em tomar mesmo estando de estômago vazio de algumas esperanças. Contrariei regras, não possuía mais virtudes, naquele dia fatídico. Cometi erros até nos acertos.
Continuo na mesma, ando pra ver se me esqueço de lembrar. Sonhei que me matava, noite passada. Um alívio desesperador me despertou, há mais de 32 horas que penso na mesma coisa, sem parar pra respirar. Vou entrar em colapso, se é que já não entrei.
Eu ando tão parada, ando tão sem mim. Estou pensando em desistir daquilo tudo que já não existe, Não sei responder aos bons dias que recebo pelas ruas, os sorrisos estão escassos e os olhos um pouco secos e avermelhados pela poeira.
Quero não mais pensar, penso em não mais querer. Calo meu silêncio, é incômodo. Queria voltar àquilo tudo, mas como?
Há 720 dias que não existo.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Como pode
Deixando a viagem de lado, me sinto cansada, meu corpo dói, tenho dificuldades pra respirar, quero dormir o tempo todo, não consigo fazer exercícios físicos, só penso em beber água o tempo todo. Acho que estou sucumbindo. Além de tudo isso, tem o calor infernal. Não dá, não dá. Tem que começar a chover logo, senão...
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Calor
Pelo menos dá pra amenizar com um banho gelado.
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Sorte
Adoro o Orkut, ele é tão sábio. Lendo essa frase, me lembrei de um e-mail que eu recebi há alguns meses. Ele anunciava a morte da Kelly Key num acidente de carro. Calma, calma... não pense que eu fico torcendo pra que os outros morram, ainda mais uma pessoa que eu nem conheço (quer dizer, já andei desejando mortes por aí, mas a Kelly é tão insignificante, que eu nunca tinha pensado na morte dela).
Não sei bem se notícias boas chegam por e-mail, algumas notícias ruins chegam sim, mas as boas... tão escassas. E quando chegam, prefiro que não venham por correio eletrônico. É tão melhor quando vêm acompanhadas por um sorriso, um abraço, tão mais humano. Esse mundo virtual anda me cansando um pouco, quer dizer, é mais fácil enumerar as coisas que não têm me cansado.
Enquanto isso, vou levando a vida no arame.
domingo, 16 de setembro de 2007
Sabe
Mas sabe quando vem um clique e você pensa "eu sou muito pra sofrer por tão pouco"? E que você já se recuperou de coisas tão piores e que nem vale tanto a pena assim? Eu até pensei "Quando queres Leblon, sou Pernambuco", eu funciono um pouco assim, tenho meus problemas, acho que vou me acabar neles, mas em certa hora vem uma coisa que se parece com um despertador e eu volto ao normal. Eu não gosto de pegar o sofrimento no colo, alimentá-lo e cuidá-lo até que ele cresça, já passei dessa fase, são anos e anos de psicoterapia, meu bem. É experiência até não poder mais, acho até que eu poderia dar aula de Introdução à Psicologia, desde os nove anos que eu pulo de um consultório pra outro, conheço todas as técnicas e tudo mais. Se bem que antes eu era uma aluna um pouco relapsa, eu era mãe do sofrimento, mas agora que a adolescência acabou, eu resolvi me dedicar um pouco mais.
Acontece que é bonito sofrer na adolescência, sofrer por amor, sofrer por incompreensão, por desilusão, por rebeldia, por preguiça, sofrer. Porém, quando você já passou da idade, fica chato e você tem que arrumar saídas e quando você não consegue achar as saídas sozinho, tem que apelar pra consultórios e receitas médicas e sessões semanais de psicoterapia/psicanálise/oualgodotipo. Daí, quando você aprende, é fácil dar o sofrimento pra adoção, porque ele é um garoto ranhento muito chato, que fica pedindo comida o tempo todo e chora, chora até que você chore com ele também. E se você for do meu tipo, você acaba jogando esse moleque no rio, pra que ele morra afogado por lá mesmo.
Eu tô numa fase de procura pelo veneno anti-monotonia, porque já tô tomando o algum remédio que me dê alegria. Um dia eu acho.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Diga
- Nunca pensei muito sobre as cores, acho que não tenho uma favorita, disse ele um pouco envergonhado e intimidado por aqueles olhos enormes.
- Como assim? Todos temos uma cor favorita.
- Vai ver que eu não sou como todos.
Ela se levantou do banco de madeira onde ambos estavam sentados e disse:
- Você deve ter uma cor favorita, é preciso escolher.
- Ninguém nunca me falou sobre isso - disse ele, um pouco decepcionado consigo mesmo.
- Então me diga qual é seu número da sorte.
- Os números nunca me atraíram muito, pra te ser sincero. Acho que nunca escolhi um que fosse de meu agrado, porque não vou com a cara de nenhum deles.
- Ai, mas você tem que escolher. Você tem que saber o que quer, do que gosta, tem que ter coisas favoritas e números da sorte. É preciso se agarrar em algo. Deve ser por essa falta de crença que você sempre me parece muito triste.
- Não sei se é bem tristeza, mas parece um vazio, vazio cheio, entende?
- Como é isso?
- Nem sei como posso explicar, o peito parece que vai explodir de tanto vazio. Eu não entendo muito bem o processo, mas funciono assim.
- Você é esquisito mesmo, hein?
- Sempre fui um pouco assim, minha mãe vive brigando comigo, tentando me empurrar pra frente, diz que eu tenho que saber o que quero, mas sabe que pra mim basta saber o que eu não quero, do que eu não gosto. Acho mais fácil.
- Talvez seja mesmo.
A moça deitou-se na grama, abriu braços e pernas. O rapaz juntou-se a ela. Eram tão jovens, tão belos e inseguros, cheios de fantasias e sonhos futuros, cheios de desilusões que estavam por vir, mais perdidos do que nunca. Eles olhavam os desenhos que as nuvens formavam, perdiam-se ali.
Ela disse:
- Me diz algo que você goste de fazer.
- Acho que não sei.
- Mas você não gosta de fazer isso que estamos fazendo agora?
- Não sei se fui eu quem escolheu isso ou se é só mais uma coisa cotidiana, fazemos isso há anos. Transformou-se em rotina.
- E de mim, você gosta?
Se olharam, uma nuvem cobriu o sol, na certa iria chover.
sábado, 8 de setembro de 2007
Nunca pensei
Esse negócio de ter aulas seis vezes por semana, me mata. O que são três dias de vagabundagem na vida de uma pessoa, não é minha gente?
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
Sem menos
Viu a-que-la moça, pela primeira vez, numa fria madrugada qualquer, decorar datas nunca foi seu forte. Além do sentimento de inauguração de um possível relacionamento, parecia, inexplicavelmente, que a conhecia há muito mais tempo (bem mais do que meros cinco minutos ou poucas frases, como preferir), sentia que aquilo vinha de outras vidas, quem sabe? Por certo que nunca acreditara nesse papo de “outras vidas”, mas queria buscar alguma explicação praquilo tudo, ao mesmo tempo que não buscava entendimento algum. Contradições, como sempre.
Quis falar-lhe (falar o quê?). Pensou, repensou, pensou mais uma vez (um filme, um livro, uma música, o quê?) e acabou pensando mais, a impulsividade nunca fora seu forte e nesse momento poderia ser o fim de tudo, um fim sem começo. Porém, aquela era sua ú-ni-ca chance, perdera tantas outras oportunidades e não queria perder mais essa, que lhe parecia a chance das chances.
Mãos suando, coração saindo pela boca, frio, voz trêmula, tímida, disse qualquer coisa, não esperava retorno, era qualquer coisa. Disse que não costumava abordar pessoas desconhecidas, aliás, por mais estranho que parecesse, só conversava com conhecidos e que nunca tinha começado um assunto com pessoa alguma. E, naquele momento, não poderia evitar aquilo.
Sem pretensões, olhou para os lados, não ousou encará-la, desviou sua atenção, pensou
Começou a sentir-se diferente, mundo parado, isolamento, só as duas em meio ao vento gelado, que deixava as suas mãos ainda mais frias. Tudo lhe parecia inédito demais.
Coração na mão, frio e suor, pernas sem firmeza, pés sem chão, momento tenso (não, não era para ser assim, a ansiedade não fora convidada, mas entrou arrombando a porta). Tentou pensar rápido, procurava algo interessante para dizer (sempre querendo impressionar futuros amantes), mas aquela situação não contribuía (pense rápido! pense rápido! quer dizer, não. não pense!)
Falou com um sorriso no rosto, tentou controlar a voz trêmula, não queria demonstrar tamanho nervosismo, foi pegar uma bebida para as duas, precisava respirar, necessitava de certa estabilidade, o álcool sempre ajuda nessas horas inexatas. Sem ar, estômago revirado (pra que horas?). Conversa sem sentido foi o que surgiu dali, porém, sentia todo o sentido.
A moça era de longe (sempre os de longe) e ela temia por isso (como querer alguém que não se pode ter ao alcance dos olhos e das mãos?). Apesar de tudo, queria aqueles olhos que a engoliam.
Apelaria para quem? Remédios contrabandeados? Músicas de fim de noite de rádios clandestinas? Conversas semanais com uma desconhecida? Deus – deuses – santos - mãe – copos – amigos – putas – livros – corpos – Leminski – abismos – trabalhos – janelas – rascunhos – macumbas – benzedeiras – Lispector – rezadeiras – pai – cigarros – exorcistas – filmes pensantes – cafés – peças rodriguianas – comédias desgastadas – diabos – antigas paixões – Caio F. – escritas – navalhas- barbitúricos – alucinógenos? Para quem ou para o quê?
Abriu-se, como uma flor, sem nenhuma vergonha ou culpa, para àquela estranha, mas que nunca lhe parecera tão desconhecida assim. Desnudou-se em palavras, sem pudor ou medo, não levava nada nos bolsos ou nas mãos, como numa música antiga. Entregava-se ali mesmo.
Pensava “de novo não!”, mas ao mesmo tempo queria “de novo sim! sempre”. Sofria por querer, era uma dependente de tempestades.
A conversa estendeu-se por horas e mais horas, não queria deixá-la, não queria ser deixada. Qualquer despedida poderia ser um movimento fatal, porém, a moça teve que partir, mas prometeu que voltaria em breve, falou com tanta convicção, que apesar de toda a desconfiança, resolveu acreditar. E partiu também, era preciso descansar, era preciso sonhar.
Chegou à casa, olhou-se no espelho, um misto de alegria e tristeza abateu-se sobre seu olhar turvo e embriagado. Algo de vazio e, ao mesmo tempo, de satisfação preenchiam-na, era muita loucura para uma noite só, para uma vida só, para uma alma só. Repetia para si mesma que não podia, que aquilo poderia significar um novo fim, que seria sua perdição, mas agarrava-se, com unhas e dentes à imagem da outra, ao cheiro que ficou gravado em sua roupa durante o longo abraço, não queria apagá-la de suas retinas fatigadas, não podia e não queria. Ficou olhando para o espelho durante muito tempo, perdeu-se ali.
Deitou-se, rolava de um lado para o outro, horas assim. O sol já estava despontando no céu. “Dia nascendo e eu morrendo”, pensamentos piegas e novelescos lhe eram corriqueiros, filosofias baratas também. Pedia a si ou a Deus, não conseguia se decidir bem, para sonhar com os olhos cortantes.
Adormeceu.
Amanhã, quem sabe?