sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

2007 em 35mm

Com toda certeza esse não foi meu ano mais cinematográfico, mas listinhas são sempre boas e bem-vindas.
Como o ano está quase no fim e eu tenho plena certeza de que não verei o filme mais sensacional do ano nessas últimas semanas, fica aí a lista:

- Pecados Íntimos (Little Children, Todd Field)


Certamente, esse está no meu Top 3 desse ano. Com uma atuação impecável de Kate Winslet, a ótima direção de Todd Field e, principalmente, um roteiro inteligente, acho que não falta mais muita coisa pra ser um grande filme. Ele é cheio de metáforas, necessita de uma boa interpretação, principalmente, acerca das crianças. Sai do filme-pipoca e passa a ser algo mais instigante.
Muita gente foi ao cinema enganada devido ao título em português, também, pudera. Exceto isso, gosto dele em todos os aspectos.

- Borat (Borat, Larry Charles)


O auge da provocação. Humor apelativo e tudo mais. Um judeu que satiriza a caça ao judeu. Tudo combinado? Não sei, só sei que é bem divertido.

- Os Infiltrados (The Departed, Martin Scorsese)


Tudo bem que o filme estreou em 2006, mas só vi esse ano, em janeiro. Scorsese sempre ótimo, até me fez ver o filme mesmo com o Matt Damon no elenco. Oscar merecido, num ano fraco, já que esse não é o melhor de seus filmes. O filme vem pra reafirmar que o DiCaprio é a Diane Keaton mais recente do Martin Scorsese e ele realmente está excelente. Mark Mark irreconhecível e surpreendentemente bom, Alec Baldwin gordo e canastrão, Nicholson com a mesma cara de louco, ator de um papel só, mas se faz bem...

- Hairspray (Hairspray, Adam Shankman)



Tudo bem que musical nunca foi meu gênero preferido e pode ser que esse não seja dos melhores, mas eu adorei. Me diverti no cinema, não ficava pensando nas compras que eu tinha pra fazer ou qualquer coisa do tipo, só sentia vontade de continuar assistindo. As músicas são ótimas e nada politicamente-corretas, exceto em uma parte, mas a gente releva.

- Uma Mulher Sob a Influência (A Woman Under The Influence, John Cassavetes)


Outro filme que não é desse ano, muito menos dessa década, ma eu vi no cinema e isso conta. Foi numa retrospectiva Cassavetes que teve no CineSesc em São Paulo. A forma de não-direção do diretor americano é uma coisa incrível. Gena Rowlands é deusa. Pouquíssimas vezes vi uma atuação tão impressionante. Acho que isso deve-ser tanto ao talento da atriz quanto a liberdade que lhe foi confirida por Cassavetes.
Provavelmente, não deve ter cópias de "Uma Mulher" no Brasil, pois as legendas desse e de outros filmes que foram apresentados nessa mostra, tinham legendas em português de Portugal. A cópia não era das melhores, mas vê-la foi um deleite.

- Daunbailó (Down By Law, Jim Jarmush)


Honestamente, eu deixei de tentar entender essa tradução para o português do título. Também não é um filme desse ano, mas como eu vi esse ano no cinema, devo listá-lo como um dos melhores do ano, pra mim. Afinal de contas, a lista me pertence.
A trilha sonora do Tom Waits é muito boa, a atuação do Benigni não é diferente de tantas outras, mas o diferencial nesse filme é roteiro e o não-compromisso com o cinema americano extremamente comercial.
E o melhor, tirou a má impressão que eu fiquei do Jarmush depois que vi "Flores Partidas".

- Planeta Terror (Planet Terror, Robert Rodriguez)



Sensacional!
Tem tudo o que um filme de zumbi precisa ter, inclusive a graça proposital. A arma acoplada à perna de Rose McGowan, a canastrice de Freddy Rodriguez como latin-lover-herói-e-tudo-mais, dentre outros aspectos deixam o filme incrível. Sem dúvida, um dos melhores e mais engraçados filmes do ano que se passou. Uma ótima retomada do trash.

- A Casa de Alice, de Chico Teixeira


Como o próprio Chico disse, um filme extremamente documental e que requer uma certa paciência. Tudo remete ao documentário, assim como a fotografia e o apego aos mínimos detalhes da vida de uma família suburbana. Acho que é válido associá-lo ao filme do israelense Yuval Shafferman, "Coisas que o Sol Esconde", que passou na Mostra de São Paulo no ano passado. Em "Casa" a velha, mãe de Alice, é a pessoa que tudo vê e nada diz, assim como em "Coisas", a filha mais nova, uma menina de uns 12 anos, faz um papel semelhante. São sabedorias diferentes.
Famílias desajustadas, problemas conjugais e filiais, problemas diários de pessoas comuns.
Negligência é o plot dos filmes. Em "Casa" ela acontece, de fato, e a mãe nada faz para dissolvê-la, já em "Coisas", o pai sente-se culpado, tenta suprimir a falta. Talvez o radicalismo de Teixeira peque mais do que a redenção de Shafferman, mas julgamentos não são válidos aqui. E, com toda certeza, a forma com que o filme brasileiro é levado não é destruída por esse maniqueísmo.
Na minha opinião, "A Casa de Alice" é um dos melhores brasileiros do ano e boa parte disso, deve-se aos silêncios, ao talento de Carla Ribas e a sensibilidade de Chico para captar as nuances reais de uma família ficcional.

- I'm Not There (I'm Not There, Todd Hayes)



Sim, eu esperava mais desse filme, mas não fiquei decepcionada com o que vi. Confesso que fiquei confusa num primeiro momento e que até agora só de pensar na parte do Richard Gere fico com sono. Porém, a atuação de Cate Blanchett vale e vale muito pelo filme todo. Ele poderia ser um "Harry Potter" qualquer, se tivesse uma atuação de Blanchett um pouco parecida com a que ela apresentou na pele de Dylan, eu veria com gosto, mesmo odiado o resto. Entretanto, o filme não é de todo mal, tem umas coisas incríveis, não dá pra comparar com o filme do bruxo, fou apenas um exemplo aleatório. Algumas cenas são tão incríveis que redimem a parte chata de Gere. Um filme não convencional e isso é garantia de discussões após a sessão, garanto. Sem contar que a trilha sonora, é claro, é ótima.

- Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho


Tudo que eu tinha pra dizer sobre esse filme, eu já disse no post anterior. O melhor brasileiro do ano e o melhor de Coutinho.

- Millenium Mambo (Qianxi Mambo,
Hou Hsiao Hsien )


E eu que não conhecia o cinema de Hsiao Hsien...
O filme também não é desse ano, mas vi numa mostra de cinema taiwanês, então conta como cinema na telona.
É uma obra-prima. Um filme hipnotizante. A cena de abertura já indica tudo, pelo menos pra mim, quando começou com a protagonista andando numa espécie de túnel, o meu sentimento era de que eu iria amar aquilo e sim. Eu disse sim para o cinema difícil de Hsiao Hsien e não me arrependo nenhum pouco disso.

- Three Times (Zui hao de shi guang, Hou Hsiao Hsien)

Outro que não é desse ano, visto na mostra de cinema de Taiwan. O amor em três tempos diferentes, vários impedimentos. Não consegue superar "Millennium", mas nem por isso deixa de ser um ótimo filme. Belo, o esmero fotográfico encanta e a cena final da primeira história é de deixar qualquer um com vontade de ter feito aquilo, tamanha delicadeza.
E o cinema oriental vem me ganhando a cada dia que passa.

- A Retirada (Désengagement, Amos Gitai)


Arrebatador.
A cena inicial do filme é inexplicavelmente boa. Discussão sobre nacionalidade, totalmente pertinente. Muitas coisas em aberto, sem frustrar. Juliette Binoche incrível.
Nada mais pode ser dito, tem que ser visto.

3 comentários:

alex disse...

Daunbailó, é sério esse título?!? E é o Tom Waits ali no canto?
Não sei se eu gosto de 'os infiltrados', acho que sempre comparo os filmes recentes do Scorcese com as obras primas dele, por isso devo sempre ficar decepcionado. Quando você diz Diane Keaton não queria dizer Robert de Niro? Ou foi uma alusão ao Woody Allen que não entendi?
'Pecados íntimos' é lindão, pena que saiu com esse título aqui.
Além desses que você citou que eu já vi, acrescentaria 'Sunshine' do Danny Boyle, 'Santiago', 'Lust, Caution' e 'Paranoid Park'. Viu algum desses?

GAL disse...

Sim, vem com o título Daunbailó e é com o Tom Waits. Muito bom.
A alusão foi ao Woody Allen, sempre faço isso.
Não vi nenhum dos três filmes que você citou.

Renato disse...

ahmmm... só vi Pecados Íntimos e Os Infiltrados, eu sei... vergonha, mas é que nem a metade da metade da metade desses filmes passou por aqui... aff...
mas tentarei ver...
quero o do Gitai... deve ser lindo.
Borat eu tô pra alugar há séculos... mas é mta preguiça, decido sempre ver o programa dele na tv...

sei lá, esse não foi meu ano cinematográfico, em termos de atualidade, vi muitas produções antigas... x}